quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A entrega

      Eu estava escrevendo quando ele chegou, a cavalo, me surpreendendo com um beijo. Entre suspiros, faltavam palavras. Os sorrisos almejavam as lágrimas. O silêncio falava por nós.
      Sob aquela linda árvore, suavemente ele me possuía, trazendo à tona todo o desejo acumulado dentro de mim. Pouco a pouco eu me entregava, era como se o tempo tivesse parado. Os minutos eram intermináveis. Via em seu olhar a imensidão do seu amor por mim.
      Na linha tênue do amor, entre a realidade e a ilusão, com lágrimas nos olhos, ele me disse que estava em estado terminal de uma grave doença, sendo esse o motivo de sua ausência.
      Por acreditar no amor, ele passou por cima de seus medos e aflições, indo ao meu encontro. Vivemos naquele dia momentos de toda uma vida. Disse ele: “Jamais eu poderia partir sem antes me entregar a ti. Minha vida, meu amor!”.
      Assim, morreu em meus braços. Debaixo daquela árvore, com aquele mesmo cavalo a nos observar. Naquele momento o céu se abriu, fui chorando de tristeza, de felicidade, de emoção. Eu me arrepiava. Era como se eu tivesse a vida em minhas mãos, a felicidade plena. E como se ela escapasse. De repente. Sem volta.
      O medo – grande protagonista dessa história – deu lugar a entrega, ao amor. Nunca fui tão feliz como ali, naquele dia. Dizer que valeu a pena é pouco, não há palavras para demonstrar o que senti – e sinto ainda. Cada suspiro. Cada beijo. Cada afago. Cada sopro. Cada olhar. Cada toque, desejo. Cada gota de suor. Sinto. Eu sinto ardentemente, a cada dia, mais e mais...
 Conto - (Maíra Martha)

Um comentário:

  1. continue assim, que me parece ser esse o caminho.
    aprenda a usar as palavras certas, de um jeito só seu. e isso te levará a uma literatura sublime, de grandes escritores. não tenha medo de fugir de lugares-comuns leia muito!

    abraço.

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